quinta-feira, agosto 30

Mas aí, como dizem, já era tarde demais....

O céu estava magnificamente azul e brilhante. As conchas iam e vinham com o mar absurdamente lindo. Os grãos de areia saltitavam conforme os passos. A brisa era suave, balançando meus cabelos castanhos e seus cachos loiros.
Sua mão pairava ao redor de minhas costas, nossos ombros, nus, se encontravam, um pressionando o outro. Sua outra mão carregava uma cesta de palha trançada e, dentro dela, havia uma toalha, morangos, chocolates, pêssegos, uvas e algumas baboseiras românticas.



Nossos pês moviam-se furtivamente para o final da praia, se é que havia fim naquela imensidão de cores, gostos e sabores, ou se a parede de rochas agia como uma barreira, não expondo o outro lado do mundo.
Chegamos a uma caverna. Bem, mais precisamente a uma fenda que se abriu entre os rochedos. A água batia e voltava como a lei de ação e reação de Newton previu. O cheiro das ondas estava mais salgado. Você me deixou às margens das vastas lágrimas, um conjunto denominado mar. Abriu a toalha, arrumou as comidas e então me guiou para mais perto.
A fenda nos olhos incomodava-me, mas, pela sua respiração pesada e as batidas aceleradas do coração, percebi que estava ansioso para me falar algo.Sentamos.
Suas mãos chegaram a meu pescoço e começaram a descer, fazendo uma trilha de calor e formigamento em meus braços, minha cintura e, por fim, minhas coxas. Então, como num ziguezague, elas voltaram a subir, percorrendo o mesmo caminho e parando na fenda que cobria meus olhos. Senti seu perfume adocicado cada vez mais perto. Quando você tirou minha fenda, revelou sua boca a milímetros da minha, deu um sorriso com os olhos e começou a me beijar.


Nosso corpo se encaixou como um quebra-cabeça, sem rupturas, o cubo mágico perfeito. Seus cachos perfeitamente ordenados entrelaçavam-se por entre meus dedos. Seus lábios eram frios, mais provocavam um calor intenso sobre mim. Minha outra mão entrou pela barra de sua regata e percorreu o contorno de seu abdômen definido. E então, você se afastou.
Apenas para pegar um morango, mas o suficiente para meu corpo implorar o seu. Colocou a fruta entre seus dentes e me puxou para mordê-la de um lado. Eu estava amando aquilo, desejando você, vivendo o ''nós''. Nunca tínhamos chegado tão perto, não importava o lugar, eu queria fazer parte de você.
Mas então, quando minha blusa saiu e suas mãos percorriam meu pescoço, desamarrando o nó do biquíni e as minhas já estavam arranhando seu peito nu, você parou, simplesmente não voltou para mim.
Tateou e me entregou uma caixa de veludo e um papel, fiquei maravilhada. Você iria ser meu primeiro namorado.
Calçou os chinelos, vestiu novamente a blusa, se virou e saiu. Simplesmente isso.
Mas eu não aceitei. Não li duas vezes o papel que dizia ADEUS. Mal olhei para o anel marcado com um SEMPRE VOU TE AMAR. Eu queria estar perto de você, proteger você, fazer parte de você. Sim, eu te amava. 
Corri para o mar, me joguei e me choquei com as ondas. O barulho sumiu. Nem me dei ao trabalho de voltar à superfície e tentar respirar. A água preenchia o vazio que você deixou e eu me entreguei a ela.


Mas você era tão rápido e nadava tão bem, conseguiu pegar meu corpo e levá-lo à areia.
Contudo, nada mais importava. Iria perder você de qualquer jeito. Quando você pronunciou as palavras que ansiei tanto por ouvir, o único fio de alma que havia me restado se foi e o EU TE AMO ainda vagava pela minha mente enquanto eu atravessava a ponte para o plano divino, deixando meu corpo absorver suas lágrimas e seu arrependimento. Mas aí, como dizem, já era tarde demais...

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