quinta-feira, janeiro 3

Por Eudi Zanchet

Inconstância seria a palavra certa...



 Não é querendo me definir, mas é o que acontece dentro de mim. Tinha um vulcão parado, que acordou e derreteu tudo com a lava em uma desgraça só. Mas eu não sinto o só. O só é raso, e eu não sou raso, nem fundo. Sou inconstante. Aprendi a morar no meu delírio, essa loucura que sempre me leva à um lugar só, uma casa que existe dentro de meus olhos. E acabo morrendo lá dentro, deitado sobre folhas, como um pássaro que não sente nem os orvalhos gelados de lágrimas, um pássaro que morreu nos próprios olhos. Mas nos olhos morreram tantas outras coisas. Eu sinto que matei a todos, a paisagem, o lago, os cães que correm, pássaros que voam, o barro úmido debaixo do pé. Tudo morreu a partir do momento que minhas pupilas se dilataram, e só enxerguei o pássaro morto, esticado ao chão. O pássaro que fora eu. A inconstância de viver à morte, e morrer à vida. O pássaro sem asas, sem ar pra voar, sem forças, sem ânimo, sem nada.

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